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quarta-feira, 27 de julho de 2022

O vinho transformado por Jesus continha álcool ?

 


Importante salientar, antes de iniciar esse ensaio, de que a palavra "vinho" (gr. oinos) no NT é um termo genérico e pode referir-se tanto ao vinho fermentado, como ao não fermentado. O sentido de oinos deve ser determinado pelo contexto e pela probabilidade moral e espiritual. 


Outra verdade não dita nos nossos púlpitos é que Maria não é mais mãe de Jesus. No capítulo 2, verso 3, Maria mãe do Jesus terreno, disse que o vinho tinha acabado. ok.


Os inimigos de Cristo, afirmam que, tanto o vinho fornecido neste casamento como o vinho feito por Jesus, eram embriagantes se consumidos em grande quantidade. Se aceitarmos esta tese, as implicações disto, dadas a seguir, devem ser reconhecidas e também aceitas: 


1) Primeiro, os convidados do casamento provavelmente estariam bêbados. 


2) Segundo, Maria, que foi mãe de Jesus, estaria lastimando a falta de bebida embriagante e estaria pedindo que Jesus fornecesse aos convidados, já embriagados, mais vinho fermentado. 


3) Terceiro, Jesus estaria produzindo, a fim de atender à vontade de sua mãe (v. 3), de 600 a 900 litros de vinho embriagante (vv. 6-9) mais do que suficiente para manter todos os convidados totalmente bêbados. 


4) Quarto, seria no mínimo razoável supor que Jesus estaria produzindo um vinho embriagante no seu primeiríssimo "milagre" a fim de manifestar "a sua glória" (v. 11) e de levar as pessoas a crerem nEle como o Filho justo e santo de Deus, dando-lhes vinho fermentado? 


Não é possível evitar as implicações supras da tese em questão. Alegar que Jesus produziu e usou vinho alcoólico, não somente ultrapassa os limites das normas exegéticas, como também nos leva a um conflito com os princípios morais e espirituais embutidos no contexto geral do ensino das Escrituras. 


Fica evidente que, à luz da natureza de Deus, da justiça de Cristo, da sua amorável solicitude pela humanidade, do bom caráter de Maria, as implicações da posição de que o vinho de Caná estava fermentado são blasfemas. Não se pode adotar uma interpretação que envolva tais afirmações e contradições. A única explicação plausível e crível é que o vinho produzido por Jesus, a fim de manifestar a sua glória, era o suco puro e não embriagante da uva. Além disso, o "vinho inferior", inicialmente fornecido pela pessoa encarregada das bodas, também com toda probabilidade não era inebriante


No próprio contexto imediato no verso 10 é usado a expressão "VINHO BOM". De conformidade com vários escritores antigos, o vinho "bom" era o vinho mais doce, vinho este que podia ser bebido livremente e em grandes quantidades sem causar danos (i.e., vinho cujo conteúdo de açúcar não fora destruído através da fermentação). 


O vinho "inferior" era aquele que fora diluído com muita água. 


1) O escritor romano Plínio afirma expressamente que o "vinho bom", chamado sapa, não era fermentado. Sapa era suco de uva fervido até diminuir um terço do seu volume a fim de aumentar seu sabor doce (IV.13). Ele escreve noutro trecho que "os vinhos são mais benéficos quando toda a sua potência é removida através do coador" (Plínio, História Natural, XIV.23-24). Plínio, Plutarco e Horácio sugerem que o melhor vinho era o do tipo "inofensivo". 


2) Os documentos rabínicos afirmam que alguns rabinos recomendavam o vinho fervido. O Mishna dos judeus diz: "O rabino Yehuda permite-o (o vinho fervido como oferta alçada), porque a fervura o melhora". 


3) É notável que o adjetivo grego traduzido "bom" (v. 10), não seja agathos, mas kalos, que significa "moralmente excelente ou apropriado".




A expressão "bebido bem" provém da palavra grega methusko, que tem dois significados: 

1) estar ou ficar bêbado, e 

2) estar farto ou satisfeito (sem referência à embriaguez). 


Aqui devemos entender methusko como o segundo destes dois significados. 


a) Seja como for traduzido este texto, ele não pode ser usado em defesa da tese de que nessa festa de casamento foi bebido vinho fermentado. Neste texto, o mestre-sala simplesmente cita um princípio geral, próprio de qualquer festa de casamento, sem considerar o tipo de bebida que foi então servido.


b) Não devemos, de modo algum, dar a entender que Jesus participou de uma festa de bebedeiras, nem que contribuiu para isso.




Entre os judeus dos tempos bíblicos, os costumes sociais e religiosos não permitiam o uso de vinho puro, fermentado ou não. O Talmude - uma obra judaica que trata das tradições do judaísmo entre 200 a.C. e 200 d.C. fala, em vários trechos, da mistura de água com vinho (e.g., Shabbath 77a; Pesahim 1086). Certos rabinos insistiam que, se o vinho fermentado não fosse misturado com três partes de água, não podia ser abençoado e contaminaria quem o bebesse. Outros rabinos exigiam dez partes de água no vinho fermentado para poder ser consumido. 


Um texto interessante temos no livro de Apocalipse, quando um anjo, falando do “vinho da ira de Deus”, declara que ele será “não misturado”, i.e., totalmente puro (Ap. 14.10). Foi assim expresso porque os leitores da época entendiam que as bebidas derivadas de uvas eram misturadas com água.



CONCLUSÃO


Ou seja, nem o vinho que foi transformado a partir da água por Jesus continha álcool, nem o vinho utilizado por Jesus na Ceia do Senhor era fermentado. Contrariar isso é contrariar o ensino das Escrituras. Contraria a revelação bíblica quanto a perfeita obediência de Cristo a seu Pai celestial (cf. 4.34; Fp 2.8,9) supor que Ele desobedeceu ao mandamento moral do Pai: “Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho... e se escoa suavemente”, i.e., quando é fermentado (Pv 23.31). 


Cristo, precisou cumprir com suas obrigações para validar seu messiado e sancionou os textos bíblicos que condenam o vinho embriagante como escarnecedor e alvoroçador (Pv 20.1), bem como as palavras de Hc 2.15: “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro!... e o embebedas” (cf. Lv 10.8-11; Pv 31.4-7; Is 28.7; Rm 14.21).


A CEIA DO SENHOR




AS EVIDÊNCIAS BÍBLICAS ATESTAM que Jesus e seus discípulos beberam na Ceia do Senhor, suco de uva não fermentado, pelas seguintes razões:


1) Nem Lucas nem qualquer outro escritor bíblico emprega a palavra “vinho” (gr. oinos) no tocante à Ceia do Senhor. 

Os escritores dos três primeiros Evangelhos empregam a expressão “fruto da vide” (Mt 26.29; Mc 14.25; Lc 22.18). O vinho não fermentado é o único “fruto da vide” verdadeiramente natural, contendo aproximadamente 20% de açúcar e nenhum álcool. A fermentação destrói boa parte do açúcar e altera aquilo que a videira produz. O vinho fermentado não é produzido pela videira. 


2) Jesus instituiu a Ceia do Senhor quando Ele e seus discípulos estavam celebrando a Páscoa. 

A lei da Páscoa em Êx 12.14-20 PROIBIA, durante a semana daquele evento, a presença de seor (Êx 12.15), ➡️palavra hebraica para fermento ou qualquer agente fermentador. Seor, no mundo antigo, era frequentemente obtido da espuma espessa da superfície do vinho quando em fermentação. Fermento na Bíblia fala de corrupção, pecado. Ora, fica explícito que o vinho não poderia ser fermentado. 

Além disso, todo o hametz (i.e., qualquer coisa fermentada) era proibido (Êx 12.19; 13.7). Deus dera essas leis porque a fermentação simbolizava a corrupção e o pecado (cf. Mt 16.6,12; 1Co 5.7,8). Jesus, o Filho de Deus, cumpriu a lei em todas as suas exigências (Mt 5.17). Logo, teria cumprido a lei de Deus para a Páscoa, e não teria usado vinho fermentado. 


3) Um intenso debate perpassa os séculos entre os rabinos e estudiosos judaicos sobre a proibição ou não dos derivados fermentados da videira durante a Páscoa. Aqueles que sustentam uma interpretação mais rigorosa e literal das Escrituras hebraicas, especialmente Êx 13.7, declaram que nenhum vinho fermentado devia ser usado nessa ocasião. 


4) Certos documentos judaicos afirmam que o uso do vinho não fermentado na Páscoa era comum nos tempos do NT. 


Por exemplo: “Segundo os Evangelhos Sinóticos, parece que no entardecer da quinta-feira da última semana de vida aqui, Jesus entrou com seus discípulos em Jerusalém, para com eles comer a Páscoa na cidade santa; neste caso, o pão e o vinho do culto de Santa Ceia instituído naquela ocasião por Ele, como memorial, seria o pão asmo e o vinho não fermentado do culto Seder” (ver “Jesus”. The Jewish Encyclopaedia, edição de 1904. V.165)


5) No AT, bebidas fermentadas nunca deviam ser usadas na casa de Deus, e um sacerdote não podia chegar-se a Deus em adoração se tomasse bebida embriagante (Lv 10.9 nota - BEP). Jesus Cristo foi o Sumo Sacerdote de Deus do novo concerto, e chegou-se a Deus em favor do seu povo (Hb 3.1; 5.1-10). 


6) O valor de um símbolo se determina pela sua capacidade de conceituar a realidade espiritual. 

Logo, assim como o pão representava o corpo puro de Cristo e tinha que ser pão asmo (i.e., sem a corrupção da fermentação), o fruto da vide, representando o sangue incorruptível de Cristo, seria melhor representado PELO SUCO DE UVA NÃO FERMENTADO (conf. com 1ª Pd. 1.18,19). Uma vez que as Escrituras declaram explicitamente que o corpo e sangue de Cristo não experimentaram corrupção (Sl 16.10; At 2.27; 13.37), esses dois elementos são corretamente simbolizados por aquilo que não é corrompido nem fermentado. 


7) Paulo determinou aos coríntios que tirassem dentre eles o fermento espiritual, i.e., o agente fermentador “da maldade e da malícia”, porque Cristo é a nossa Páscoa (1Co 5.6-8). Seria contraditório usar na Ceia do Senhor um símbolo da maldade, i.e., algo contendo levedura ou fermento, se considerarmos os objetivos dessa ordenança do Senhor, bem como as exigências bíblicas para dela participarmos.


8) Por fim, Paulo orienta que um dos deveres dos sacerdotes era não usar vinho fermentado.


Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.
Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;
Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;

1ª Timóteo 3:1-3



Artigo extraído com base nos estudos sobre o vinho da Bíblia de Estudo Pentecostal, págs 1518, 1571 à 1574.




"...sabendo que fui posto para a defesa do evangelho"
Filipenses 1:17


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