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domingo, 31 de outubro de 2021

ARMÍNIO ELOGIOU CALVINO ?

O que dizer do elogio de Armínio à Calvino tão usado por calvinistas nas redes sociais? Seria Armínio calvinista por causa desta citação? Ou na verdade falta contexto no texto usado por calvinistas? 



Vamos à citação feita pelos calvinistas.


"Eu os aconselho a ler os comentários de Calvino, a quem confiro maior louvor do que Helmichius [um teólogo holandês (1551-1608)] jamais fez, como ele próprio me confessou. Pois eu digo a eles, que seus comentários devem ser mantidos em maior estima, do que tudo que nos é entregue nos escritos dos Pais Cristãos Antigos: De forma que, em um certo eminente Espírito de Profecia, dou a proeminência para ele além da maioria dos outros, de fato além de todos eles."


Vamos primeiro à citação COMPLETA e não RECORTADA, no idioma inglês:


"After the Holy Scriptures, I exhort the students to read the Commentaries of Calvin. . . . I tell them that he is incomparable in the interpretation of Scripture; and that his Commentaries ought to be held in greater estimation than all that is delivered to us in the writings of the ancient Christian Fathers: so that, in a certain eminent spirit of prophecy, I give the preeminence to him beyond most others, indeed beyond them all. I add that, with regard to what belongs to common places, his Institutes must be read after the Catechism, as a more ample interpretation. But to all this I subjoin the remark, that they must be perused with cautious choice, like all other human compositions."


Percebam que a frase citada por calvinistas foi recortada, pois a parte em que Armínio manda ter cuidado foi arrancada. Minha pergunta é: por que excluir o restante da frase? 

Qual a intenção da pessoa que exclui essa parte da citação que não seja conferir um peso, uma autoridade e uma infalibilidade aos escritos de Calvino? 


Muitos blogs calvinistas usam a mesma frase RECORTADA, agindo de forma desonesta, afim de tentar provar que o maior expoente do Arminianismo incentivou a leitura de Calvino, ou que era calvinista.


A tradução da parte da citação que foi excluída é esta:


“Eu acrescento que, em relação ao que pertence aos lugares comuns, suas Institutas devem ser lidas após o Catecismo, como uma interpretação mais ampla. Mas em tudo isso eu acrescento a observação que eles [os Comentários e as Institutas] devem ser examinados com escolha cuidadosa [prudente], assim como todos os outros escritos de homens”.

 

Vejamos a citação dessa frase feita em Jacob Arminus: Theologian of Grace, p. 43-44: 

“Entre os autores reformados, Armínio também possuía muitos livros de seu ex-professor Theodore Beza, assim como livros de Franciscus Junius e Heinrich Bullinger. Mas o número de livros de Calvino era superior a todos estes. Em uma carta de 1607, Armínio nega a acusação de que ele recomenda a seus alunos que leiam os jesuítas em vez de lerem os autores reformados. 

Antes, ele reivindica que indica os comentários de Calvino acima de todas as outras obras sobre a Bíblia, pois elas contêm um “certo espírito de profecia”. 

Além disso, as Institutas da Religião Cristã de Calvino deveriam ser lidas após o Catecismo (de Heildeberg) como uma explicação mais plena dela. Ele então acrescenta que todas as obras de Calvino, assim como todas as obras humanas, devem ser lidas com cautela. 

Armínio é ambivalente em seu endosso de Calvino. Seu respeito pelos comentários de Calvino está claro. Ao mesmo tempo, embora ele recomende as Institutas, ele não reivindica concordância total com todo seu conteúdo, mas apenas recomenda o livro especificamente como um suplemento para o catecismo” (p. 43-44).


Eu partilho da mesma opinião dos autores do livro de que o endosso de Armínio a aos comentários de Calvino está claro e mostra “respeito”, (e eu não quero fazer desse “respeito”  - nas palavras dos autores acima - uma espécie de prova de calvinismo) mas que ao mesmo tempo, o endosso de Armínio é ambivalente, mas essa ideia de ambivalência só pode ser obtida a partir das ressalvas feitas por Armínio na citação, mas o que acontece é que, na maioria das vezes, essas ressalvas não aparecem, assim como não apareceu em nosso diálogo.


Minha orientação é usar essse artigo quando calvinistas usarem a citação de elogio de Arminio à Calvino. 


E todos àqueles que quiserem saber o posicionamento teológico de Armínio sobre as doutrinas soteriológicas esboçadas por Calvino, leiam,  As Obras de Armínio NA ÍNTEGRA, para ver em suas centenas de páginas as muitas REFUTAÇÕES feitas pelo teólogo da Holanda, aos posicionamentos principais: predestinação fatalista, supralapsarianismo, graça irresistível, eleição incondicional, etc. Armínio não poupou críticas a Calvino e aos 'calvinistas' de seu tempo".


Ou seja, a desonestidade intelectual e histórica de calvinistas não tem limites.


Extraído do site: Em defesa da Graça 


"...sabendo que fui posto para a defesa do evangelho".

(Filipenses 1:17)


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